segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O Jardim de Joana

Joana não sabia ao certo o que ainda lhe prendia. Um sentimento, uma lembrança, um suspiro, uma saudade do que não foi. Não sabe se foi o bilhete, o desenho ou a canção que a muito cessou. Mas no seu interior se encontrava a resposta; se via na obrigação de estar sempre livre, sempre pronta à uma segunda chance. O que passou foi breve demais, fugaz demais, poderia ter sido tão mágico! Mas o tempo foi escasso, e se esvaiu dos dedos de Joana. E quantas risadas, quantos carinhos Joana perdeu esperando a diligência do amor, com seu balanço suave, com seu conforto que só! E quantos momentos, e quantas carícias Joana deixou passar naquela espera mórbida, naquele transe emocional em que se colocou. Ah, Joana esperou, era a coisa certa! Inspirou e esperou, não se incomodou. Sem jamais reclamar; nem dores nem paz. E quando, finalmente, chegou o dia em que ela jurou à si mesma que seria de alegria, Joana forçou-se a sorrir. - Mas por que forço o riso? Por que meus músculos faciais não apenas fazem isso, sem o meu comando? Joana não sabia, e sem trégua se perguntava. Olhou para trás, quantas primaveras perdeu, e belos luares! Quis chorar, mas o tempo ressequiu seus olhos e seus sentimentos. Quantas pessoas passaram, quão boas ou não? Quanto não absorveu dos outros, por estar absorta em si mesma e seu ideal? Como não viu antes, como não a tempo; o bilhete estava apagado, o desenho era borrado, a canção, música fúnebre. Joana, em desespero, quis tocar os luares que perdeu, quis virar primavera que não viu. Quis sentar na lua quando minguante, e brotar, ver o sol, de uma jasmim. Joana se esticou, não tocou a lua. Joana se abaixou, não virou flor. Só havia um jeito para Joana. Foi até bem alto ver a lua, sem medo pulou e a alcançou. Nunca foi tão feliz na vida inteira, agora só restava virar flor. Então Joana se despediu da lua, e em sua queda só viu cor. No asfalto perdeu-se em pedaços, cada um deles a mais bela flor.

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